Helio Bray no Clube Rastro
Da liberdade do grafiti à fama mundial
Quando caminhamos pelas ruas das mais modernas cidades ocidentais e nos deparamos com um Spot onde está um Piece ou um Wildstyle, com a respetiva Tag, questionamos, de imediato, o que é aquilo? O que leva os artistas a grafitarem nas paredes?
Eis a resposta do célebre e aclamado Keit Haring (USA, 1958-1990): “Eu sempre fiquei totalmente surpreso que as pessoas que eu conhecia estivessem muito preocupados com o que eles significavam. A primeira coisa que alguém me perguntou, não importa a idade, não importa quem eles eram, foi o que isso significa?”.
Os homens das cavernas desenhavam nas paredes símbolos e animais e, ainda hoje, os historiadores colocam a mesma questão… Esta necessidade de os homens fazerem marcas, inscrições e desenhos em paredes, surge na pré-história, intensifica-se na era romana – com os protestos dos povos oprimidos pelo império romano a serem realizados em muros públicos -, aparece, na época medieval, em forma de frescos pintados nas paredes e tetos das igrejas, etc.
Mas a origem do grafiti da atualidade remonta ao parisiense Maio de 1968, onde os muros serviram para veicular a mensagem da revolução estudantil contra um sistema conservador, obtuso e castrador das liberdades e felicidade humana. Curiosamente, foi este mesmo espírito transgressor contra o sistema, que levou ao sucesso do grafiti na periferia de Nova York, nos anos 70 do século passado: as desigualdades eram gritantes, o racismo estava institucionalizado, a violência policial imperava, e o grafiti era a arma que restava…
“Um dia, andando de metro, vi um painel preto vazio onde deveria estar um anúncio. Percebi imediatamente que aquele era o lugar perfeito para desenhar (…). Continuei vendo cada vez mais desses espaços pretos e desenhava neles sempre que via um. Por serem tão frágeis, as pessoas deixavam-nos em paz e respeitavam-nos; eles não os apagaram ou tentaram destruí-los. Esta atitude deu-lhes outro poder. Era uma coisa frágil e branca como giz, no meio de toda essa tensão, violência e poder que o metro representava. As pessoas ficaram encantadas.”.
Talvez Helio Bray, que pinta grafitis há mais de 20 anos, tenha começado a pintar paredes pela mesma razão de Keit Haring: porque viu um qualquer “painel preto vazio” e achou que esse era o lugar ideal para expressar o que sentia naquele exato momento, em absoluta liberdade…
Mas a beleza, criatividade e perícia técnica apresentada nos murais de Hélio Bray deram nas vistas e, rapidamente, Bray passou à condição de estrela em ascensão no meio da arte urbana nacional e internacional, num percurso semelhante ao de Vhils, Bordalo II, Odeith, etc.
O Clube Rastro tem o prazer, e o privilégio, de apresentar 3 extraordinárias obras do artista: “Absolute”, “IceCream 01” e “IceCream 02”; Veja aqui em pormenor as obras e não perca a oportunidade de colocar na sua coleção algum trabalho de Hélio Bray. Antes que aconteça o mesmo que ocorreu com as obras de Vhils, Bordalo II ou de Keith Haring, pois, “em 1984, o metro começou a sair pela culatra, porque todo o mundo roubava as minhas peças. Eu descia e desenhava no metro e, duas horas depois, todas as peças tinham desaparecido e acabavam por aparecer à venda. Mais tarde, as camisas com os meus padrões apareciam no Japão, as sapatilhas no Brasil e os vestidos na Austrália…”.