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Júlio Pomar

Originais e obra gráfica rara de Júlio Pomar no Clube Rastro.

O pintor “sem tempo”

A história é conhecida: na Lisboa de 1942, onde “não havia galerias nem nada de nada”, quatro estudantes de pintura – Vespeira, Fernando Azevedo, Pedro Oom e Júlio Pomar – expõem os seus primeiros trabalhos num “quarto alugado que funcionava como atelier”, na rua das Flores; os intelectuais e diretores dos principais Museus nacionais de então, visitam e entusiasmam-se com a exposição, mas apenas um dos imberbes artistas, então com 17 anos, consegue vender uma obra: “Os Saltimbancos”, de Júlio Pomar, acaba por ser adquirida pelo grande Almada Negreiros por 100 mil réis…

Mário Dionisio, na Seara Nova, escreve de imediato um artigo premonitório, intitulado: “O princípio de um grande pintor?”.

A verdade é que a pintura de Júlio Pomar transformou a história da arte portuguesa a partir de então, com o criador da crítica de arte em Portugal, José Augusto França, a considerar Pomar, o “pintor mais imediatamente talentoso da sua geração e o mais brilhante dos cultores do neorrealismo de 45“.

Mas o jovem prodígio do “realismo social” português não cristaliza a sua obra nesta corrente e apresenta, já em 1957, “Maria da Fonte”, onde é sensível à influência de Goya ou Columbano; é o próprio artista, no seu livro, “Então e a Pintura”, de 2002, que explica o que o movia: “repetir uma lição aprendida depressa se torna chato. Fixar limites, fechar as portas ao que perturba, ao que pode trazer consigo o eventual sobressalto – não, para isso já não tenho tempo”.

O tempo de Pomar foi consumido em mais de sete décadas de pintura genial, expondo as suas obras nas melhores galerias nacionais e europeias, recebendo as maiores distinções críticas e prémios de pintura, tendo obra representada em importantes museus internacionais, etc, etc.

O Clube Rastro apresenta obras originais do Mestre Júlio Pomar, estudos que o artista realizou a partir do romance “Guerra e Paz”, de Leon Tolstoi. Júlio Pomar realizou estes estudos entre os anos de 1955 e 1958, tendo os desenhos finais sido publicados em 1958 numa versão ilustrada do “Guerra e Paz” editada pela Editorial Sul Limitada.

Em 2005, a editorial Artemágica e João Lobo Antunes, selecionaram 71 destes estudos e publicaram uma nova versão do “Guerra e Paz”. Os desenhos apresentados pelo Clube Rastro não estão reproduzidos nestes dois livros, mas todos têm a melhor proveniência e certificado de autenticidade. Trata-se de obras raras, que nunca foram comercializadas no mercado de arte nacional.

O clube apresenta também obra gráfica rara do artista, como a serigrafia “Varina a comer Melancia”, de 1949, onde encontramos um “cubismo” subliminar e uma cor que se liberta dos limites do traço, algo que fugia à disciplina realista de então.

Em Júlio Pomar, os retratos de Fernando Pessoa, os seus Tigres, Corvos, Burros, as suas séries eróticas, os seus “Maio de 68”, Rugby, D. Quixote, a série da Tauromaquia, das Corridas de Cavalo, dos Índios Xingu ou dos Fadistas, permitem nunca “repetir uma lição aprendida (…). Fixar limites, fechar as portas ao que perturba, ao que pode trazer consigo o eventual sobressalto – não, para isso já não tenho tempo”.

Tenha um “sobressalto” ao admirar o génio do pintor “sem tempo” e compre a obra rara de Júlio Pomar no Clube Rastro.