Pedro Calapez: O que me interessa é o que me deslumbra na vida
- 27 Mai, 2024
- Publicado por Galeria Rastro
Em 1957, Mark Rothko declarava perentoriamente: “Eu não sou um abstracionista. Eu não estou interessado na relação da cor ou forma ou qualquer outra coisa. Eu interesso-me apenas em expressar emoções humanas básicas: tragédia, êxtase, ruína, e assim por diante…”.
Pedro Calapez, em entrevista a um periódico espanhol, afirmou algo semelhante: “Toda a imagem representa um ato político. Não pretendo transmitir mensagens, sejam elas quais sejam. O que me interessa é o que me deslumbra na vida e o que me
surpreende quando pinto ou desenho, e se o que fiz se materializou num objeto que alguns chamam arte. Pouco me interessa se é arte ou não. Acredito que a obra deve ser aberta, como dizia Umberto Eco. Deve permitir múltiplas interpretações e, como tal, múltiplas discussões…”.
A junção de citações de Mark Rothko e Pedro Calapez não é um acaso: ambos são expressionistas abstratos, mais especificamente ligados ao “Color Field” – em português, Campo de Cor -, uma tendência artística que marcou uma clivagem indelével dentro do expressionismo abstrato: entre os artistas que seguiam a gestualidade “brutal” e intuitiva da “Action Painting” e a meditação, por vezes mística, dos artistas da “Color Field”, com as suas cores planas e indefinidas…
Ou, numa célebre definição, o “Color Field” acontece quando a “cor é libertada do contexto objetivo e torna-se, ela própria, o sujeito”. Mas repare-se como Jules Olitsky, um dos mais conhecidos pintores deste movimento, desmistificou a definição: “não sei o que significa pintura em cores. Eu acho que provavelmente foi inventado por algum crítico, o que está bem, mas eu não acho que a frase signifique qualquer coisa. Pintura de campo de cores? Quero dizer, o que é cor? A pintura tem a ver com muitas coisas. A cor está entre as coisas que tem a ver com isso. Tem a ver com a superfície. Tem a ver com a forma, tem a ver com sentimentos que são mais difíceis de obter”.
E são estes “sentimentos” que Pedro Calapez tenta obter desde os anos 70. Com um brilhantismo que já o levou a expor na Bienal de Veneza (em 1986) e na Bienal de São Paulo (em 1987 e 1991), assim como na Fundação Calouste Gulbenkian, Casa de la Cittá, Roma, Carré des Arts, Paris, etc. E que levou importantes instituições e museus europeus, como o Banco Central Europeu, a Fundação Pilar i Joan Miró ou o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, a adquirirem e colocarem obras de Calapez no seu acervo. Refira-se que Pedro Calapez recebeu a aclamação da crítica nacional em 2005, quando lhe atribuíram o prémio da “AICA”, tendo também recebido o maior prémio nacional de arte em 2001, quando lhe foi atribuído o “Prémio EDP Pintura”; Calapez também já foi premiado no estrangeiro, nomeadamente em Maiorca, Cáceres, etc.
Pedro Calapez é, portanto, um dos artistas nacionais mais relevantes e um dos pintores com maior valorização no mercado da arte, com colecionadores espalhados por toda a Europa.
Por isso, é um privilégio para o Clube Rastro apresentar no seu acervo obras deste artista maior que, tal como Mark Rothko referia, não está “interessado na relação da cor ou forma ou qualquer outra coisa. Eu interesso-me apenas em expressar emoções humanas básicas: tragédia, êxtase, ruína, e assim por diante…”.