Jacinto Luis: “A pintura é uma repetição constante, ninguém inventou nada”
- 19 Jul, 2024
- Publicado por Galeria Rastro
Jacinto Luis começou por pintar “naturezas mortas”; “a primeira que pintei foi uma taça de café com uma pera ao lado; a partir daí comecei a desenhar outros motivos, sempre figurativos e, a pouco e pouco (…) comecei a “intelectualizar” a pintura. Em vez de fazer aquelas naturezas mortas clássicas que se fazem nas academias, em vez de fazer aquelas paisagens do Sena, do Coliseu de Roma, comecei a interpretar à minha maneira, a tirar coisas, a pôr coisas, a descobrir luzes; interessa-me muito a luz, a luz é primordial na pintura. Não posso é mudar os temas, não posso, porque, por muito que eu queira, não me sai”, explicou Jacinto Luis ao Clube Rastro.
Jacinto defende que a “luz, para mim, é o mais importante num quadro” e explica que procura “constantemente” aprofundar essa “luminosidade”; “Eu gosto de pintar coisas que não sejam muito evidentes, porque para isso estão os postais, estão as fotografias; eu faço quadros com ambiente, procuro ambientes, procuro dar aquilo que eu tenho de melhor para que as pessoas possam gostar”, adianta o Mestre Jacinto Luis.
O artista gosta também de pintar “paisagens urbanas. Eu inspiro-me naquilo que vejo. Pintei muito a Madeira, pintei muito o Porto, sobretudo Vila Nova de Gaia, fiz várias exposições no Porto. Não me apetece pintar coisas que sejam muito evidentes, apesar de ter pintado a Torre Eiffell. Eu pintei a Torre Eiffell e o pintor Luís Caballero até escreveu: “nunca pensei que a Torre Eiffel pudesse ter poesia!”. Esse quadro até acabou por ser vendido em Paris”, explicou ao Clube Rastro o Mestre Jacinto Luis.
Jacinto, que trabalhou com os “melhores galeristas deste país” como o “Manuel de Brito da 111, que era uma referência”, expôs em diversas instituições, fundações, como a fundação do Oriente em Macau. “Tive a sorte, depois, de participar numa exposição a partir do 25 de Abril; fizeram uma exposição supostamente contemporânea na Sociedade Nacional de Belas Artes, e eu fui a vedeta! Ninguém me conhecia, os pintores famosos da altura começaram a dizer, “mas este não anda na escola do Porto, não anda na escola de Lisboa”; resultado: Jacinto Luis vendeu todas as obras expostas, também “porque eu era amigo do Manuel Cargaleiro e havia uns colecionadores de Lisboa que já me conheciam de Paris”, concluiu.
Jacinto Luis, 78 anos de vida e quase 60 de carreira, um dos maiores artistas nacionais, aceitou o desafio de pintar para o Clube Rastro um dos seus temas mais emblemáticos: um Quiosque. “Este quiosque é um tema antigo e é do Cais do Sodré, só que ele já não existe, foi substituído por um de plástico, enorme, que até tem um certo interesse porque permite fazer uma grande esplanada onde os turistas consomem muito. Ainda está lá um antigo, em Santos, está meio partido, mas quando eu o pinto ponho-o direito”, explica o Mestre Jacinto ao Clube Rastro.